terça-feira, 11 de maio de 2010

A Batalha de Ain Jalut

A batalha de Ain Jalut, embora pouco conhecido no Ocidente, foi um dos mais decisivos combates militares da história. 
Foi travado em 3 de setembro de 1260 nos arredores de Nazaré, na Palestina. De um lado, o exército de Qutuz, sultão muçulmano da dinastia dos mamelucos, ex-escravos de origem turca que tomaram o poder no Egito em 1250. De outro, os temidos guerreiros mongóis de Hulegu, neto de Gêngis Khan. Naquele 25º dia do mês santo do ramadã do ano 658 do calendário islâmico, os guerreiros muçulmanos não só garantiram a sobrevivência da dinastia mameluca por mais 240 anos como, segundo Helmi Nasr, professor do Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo, asseguraram a manutenção do predomínio de sua fé no Norte da África e no Oriente Médio. 
Foi o ponto de partida para a expansão das palavras de Maomé para a Ásia Central. No século 13, as hostilidades contra os muçulmanos vinham de dois lados. A oeste desembarcavam os cristãos europeus, que já haviam empreendido sete cruzadas para conquistar Jerusalém. Do leste os mongóis. Quando Möngke Khan tornou-se o Grande Khan in 1251, imediatamente pôs em prática os planos de seu avô Genghis Khan para a criação de um Império Mundial. Para levar a cabo a conquista das nações ocidentais selecionou seu irmão Hulagu Khan. 
Em 1258, os descendentes de Gêngis Khan empreenderam o ataque mais duro ao mundo muçulmano: Bagdá, a capital da dinastia árabe abássida (750-1258), foi conquistada. Hulegu, líder mongol instalado na Pérsia, ordenou o assassinato de 80 mil moradores da cidade, incluindo mulheres e crianças. A carnificina acirrou a tensão entre cristãos e muçulmanos. Apesar de budista, Hulegu defendia o cristianismo, pois era filho de uma nestoriana, uma dissidência do catolicismo que seguia os ensinamentos de Nestório, patriarca de Constantinopla. Vários dos generais foram recrutados entre os cristãos turcos, que haviam sido aliados ou simpatizantes dos franj, como os cruzados eram conhecidos pelos muçulmanos.  
Depois de Bagdá, as tropas mongóis avançaram sobre Damasco, liderados por Kitbuga. O general, um turco nestoriano, entrou triunfante na cidade, onde poupou apenas os cristãos. Ele ainda conquistou outra cidade muçulmana, Alepo, e voltou suas catapultas em direção ao Egito, então o último reduto seguro para os muçulmanos. Os mongóis ofereceram a chance da rendição, mas os mamelucos escolheram a guerra, mesmo sob o risco de terem o mesmo fim que a população de Bagdá. Com o apelo extra de estarem lutando contra a extinção de sua religião, os mamelucos reuniram um impressionante exército de 120 mil guerreiros que surpreendeu e esmagou os 10 mil homens de Kitbuga, em Ain Jalut. 
Mas, se a reação tivesse atrasado ou não fosse dessa monta e o inverso tivesse ocorrido, provavelmente os mongóis chegariam às cidades santas de Meca e Jerusalém, onde destruiriam, respectivamente, a Caaba e o Domo da Rocha, símbolos sagrados do islamismo. Talvez colocassem abaixo até as pirâmides egípcias”, afirma Helmi. “O islamismo jamais teria chegado à Ásia Central, que hoje seria predominantemente budista ou cristã. Além disso, a Europa poderia sofrer uma nova e arrasadora incursão mongol.
Para Saber mais:
...Os mongóis tivessem vencido os muçulmanos em Ain Jalut?
The Mongols Meet Their Match: The Battle of Ain Jalut(Em Inglês)

Decisive Battles: Ain Jalut, 1260 (em Inglês)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma Breve História dos Jogos de Tabuleiro (Parte 2)

A segunda parte da matéria  passou por menos revisões que a primeira, mas mesmo assim vale a pena dar uma conferida.

A Idade de Ouro (1960-1995)
A ascenção e o colapso do mercado americano.
Dos anos 60 ao início dos 80, a indústria mundial de jogos de tabuleiro foi dominada pelas empresas americanas.  As demais indústrias mundiais limitavam-se a publicar traduções dos jogos comercializados nos Estados Unididos. 
Com poucas exceções, a indústria era dividida entre jogos relativamente simples e familiares como Life (Jogo da Vida, de 1960), Risk (War na adaptação brasileira, de 1959) e Careers (Jogo das Profissões, de 1955) produzidos, na sua maioria, por Milton Bradley e Parker Brothers, e jogos de cenários históricos e de maior complexidade estratégica como Afrika Korps (1964), Panzerblitz (1970), Squad Leader (1977), Ironclads (1979) e Civilization (Não confundir com as versões de tabuleiro do Sid Meier's Civilization, versão de tabuleiro baseado no jogo de PC e que já teve duas versão, de 1982) produzidos pela Avalon Hill, Strategy &Tactics magazine, Game Designer’s Workshop (GDW), Yaquinto, Battleline e um grande número de outras empresas. Estes últimos jogos citados eram produzidos para o público o adulto, com centenas de títulos cobrindo os principais conflitos e eras históricas.
Até o final dos anos 1960 a grande maioria dos jogos de guerra americanos caracterizavam se por mapas históricos detalhados cobertos por uma grade hexagonal, acompanhados de uma centena ou mais de contadores de papelão representando as unidades militares. Os números impressos em cada contador normalmente representavam as forças ofensivas e defensivas da unidade em questão, juntamente com a sua velocidade de movimento expressa em hexágonos por turno. Os jogadores moviam esses contadores através do mapa de acordo com regras complexas durante a fase de "movimento" de seu turno, então jogavam dados em tabelas de resultado de combate durante a fase de combate do turno.  
Drang Nach Osten

Os mais complexos desses wargames tinha manuais de regras com vinte ou mais páginas. Um exemplo extremo foi Drang Nach Osten da GDW (1973), uma simulação do front oriental da Segunda Guerra Mundial. Seu mapa cobria a maior parte de uma mesa de ping-pong, e exigiu dezenas horas de jogo com os jogadores organizados em equipe de três.
Alguns jogos de estratégia tratavam de conflitos econômicos ou de construção de civilizações, seus mapas apresentavam divisões de províncias ou regiões em vez de hexágonos, por exemplo, Britannia (1986) da Gibsons Games, o Civilization da Avalon Hill (não confundir com Sid Meier's Civilization: The Boardgame, jogo baseado na série Civilization de jogos de computador) e Conquest of the Empire (1984) da Milton Bradley, a clássica série “Gamemaster” de jogos de estratégia que também incluía Axis and Allies (1981) e Shogun (1984). Esses jogos do final da Era de Ouro utilizavam métodos mais simples para solução de conflitos que os wargames anteriores e, em alguns casos incluídos peças plástico ou arredondadas, contadores de recurso ou cartas de civilização (estes se tornaram mais importantes nos jogos da Idade de Prata).
Outro gênero de jogo que se tornou tremendamente popular na Idade de Ouro foi o role-playing game (RPG). Estes jogos envolvem os jogadores na interpretação personagens individuais em uma série de aventuras e conflitos em universos de fantasia, terror e ficção científica. O rei destes jogos é o Dungeons and Dragons (cuja primeira edição foi publicada em 1974, e a quarta em 2008), que com suas diversas expansões e variantes tornou-se tão popular que gerou um pânico moral pelo medo de que jogadores menores de idade ao interpretarem papéis de magos, elfos e anões levassem isso tão a sério a ponto de, na vida real, cometessem assaltos, homicídios e suicídios. Parte do público dos RPGs foi tomado nas últimas décadas por jogos de computador de aventura e fantasia, que eliminam a necessidade de um "mestre de jogo" e de um conjuntos complexos de regras de interpretação, pois o computador faz todos os cálculos e cria os cenários de jogo.
Dois outros gêneros de jogos de tabuleiro da Idade de Ouro que merecem menção são os jogos
da família baseada no conhecimento, tais como Trivial Pursuit (1981) e Balderdash (1971) onde o jogador vence com base em sua inteligência e na sua memória para trivialidades. Trivial Pursuit publicou dezenas de expansões e variantes, e é popular ainda hoje. 
 O segundo gênero é o de jogos sobre a exploração espacial e de combate de nave que ocupava um nicho importante do mercado dos jogos de tabuleiro na Idade de Ouro. Um desses jogos foi Star Fleet Battles (de 1979 até hoje), um jogo de nave de combate no universo original da série de TV Star Trek. Seu manual de regras completo requer um fichário grande para organizar tudo, incluindo uma série interminável de folhetos de expansão que adicionavam novas regras e centenas de desenhos para um punhado novas naves (estas expansões estão sendo produzidos até hoje). Ele foi adaptado para dois jogos de computador chamados Star Trek: Starfleet Command (1999) e Comando da Frota Estelar II: Empires at War (2001), onde os jogadores comandam uma única nave, em batalhas táticas e campanhas estratégicas. 
Outros exemplos de jogos de ficção científica desse período incluem Avalon Hill’s Stellar Conquest (1975) e GDW’s Imperium (1977).
A crescente popularidade e sofisticação dos jogos de computador a partir do final de 1980 e durante a década de 90 reduziu seriamente a produção das empresas americanas de jogos de tabuleiro, levando várias delas à falência e forçando os sobreviventes a reduzir drasticamente sua produção. Mesmo a poderosa Avalon Hill, a maior casa de produção de jogos durante a Idade de Ouro, foi dissolvida no final de 1990, seu catálogo adquirido pela Hasbro, que re-lançou uma série selecionada de títulos.
A Era de Ouro dos jogos de tabuleiro americanos acabou com a chegada do Commodore, Amiga e Atari ST as prateleiras da lojas em 1985. O computador pessoal matou a popularidade dos jogos de tabuleiro para adultos, pelo menos no mercado americano.
Para saber mais:  

Uma Breve História dos Jogos de Tabuleiro (Parte 1)
Uma Breve História dos Jogos de Tabuleiro (Interlúdio)
Matéria Original: A short history of board games, by doug mann

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